Um olhar ecosófico

Ensaiar um olhar ecosófico é o que a Sociedade para o Avanço Humano e Desenvolvimento Ecosófico vem praticando. Afinal o que pretendemos com ‘nos desenvolvermos ecosoficamente’? O que exatamente significa isso? Primeiro precisamos esclarecer de onde aproveitamos a ideia de ecosofia, no livro do Guattari definida como articulação ético política entre as ecologias humana, social e ambiental. 

Dessa maneira, avançarmos nesse caminho deveria significar que estamos conseguindo (ou pelo menos tentando) formas práticas de colocar em contato (e não de qualquer maneira, mas ético politicamente) essas esferas do existir: humano, social, ambiental. Ora então como fazê-lo? Sabemos que essa é uma pergunta que pode gerar muitas formas de respostas, mas aqui queremos lançar mão de um princípio proposto por Gandhi para pensar em nossa maneira de respondê-la, ele sugere “ser você a mudança que quer ver no mundo”, vivenciar aquilo que alimenta tuas ideias já é uma revolução, talvez uma micro revolução como poderíamos pensar com Foucault, do tamanho suficiente pra desencadear as transformações nos universos em que se enreda esse pequeno ser revolucionado, como fruto das marolas produzidas pelo corpo em movimento.

Ecologia humana então é a primeira esfera a receber nossa atenção para que seja possível produzir as condições necessárias pra a construção de um olhar ecosófico. Para olharmos à nossa volta e encontrarmos nossos semelhantes, nossos diferentes, toda vida em torno de cada um de nós, com respeito e amor, primeiro lançar um olhar sobre si. É esse o convite a quem queira conosco ensaiar (e quem sabe assim ir construindo) certo olhar ecosófico nesse momento de crise por que passa nossa civilização. 

O que posso já agora mudar significativamente na minha vida que fortalece o projeto de harmonizar o humano que sou com a vida ao meu redor? Tratar melhor minha irmã, meu encarregado, separar meu lixo, consumir conscientemente, não ser violento, o que me toca mais no rol de possibilidades de mudanças a desencadear em torno de mim. Sim pois acreditamos que o exemplo é a melhor didática que podemos ter se pretendemos transmitir valores que julgamos dignos a quem convive conosco. Não há novidade nisso, é verdade, mas bem falta aplicação continuada do princípio, somos muito suscetíveis ao esquecimento. 

Realizar projetos que ajudem a nos lembrar desta missão de cuidado com a vida executados através da busca da harmonização das esferas humana, social e ambiental é o que a SAHUDE propõe em sua atuação através dos seus sócios e colaboradores que prestam seus serviços de maneira desinteressada, fortalecendo outros princípios numa sociedade adoecida pela prevalência de uma lógica capitalística de existência, o trabalho voluntário como aposta na construção de uma nova rede de relacionamentos, individuais, institucionais, coletivos que pode gerar condições suficientes para produzir um novo olhar, que aqui chamamos de ecosófico, e quem sabe assim modestamente ensaiando um olhar não vamos também projetando ou quiçá até, com alguma sorte, já construindo pequenos novos mundos. 

REFERÊNCIA: GUATTARI, Felix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.